Tem uma coisa que eu gostaria de fazer com os meus carros, mas não consigo. Passo a semana trabalhando que nem um camelo para manter as obras andando. O final de semana é da família. Se eu tivesse tempo gostaria de levantar a história de cada um dos meus carros ... Mas isso consome tempo, que hoje eu não tenho ... E se eu demorar muito, a chance de que partes das histórias dos carros não mais estejam disponíveis (leia-se vivas) cresce ...
Cada carro tem uma história. Algumas são simples, como a do COT, meu Dart 74 qua foi do sr.Murillo de 1974 até 2005, aí passou para mim e pronto !!! Outras são complexas, obscuras ... Alguns carros tem o histórico completamente desconhecidos ...
Mas dizem que se Maomé não vai a montanha ... a montanha vai a Maomé ...
E pelo menos no caso do meu R/T 72 verde igarapé foi exatamente o que aconteceu ...
Mês passado estava no encontro de Águas de Lindóia quando o Lincoln me chamou ... Estava com um rapaz um pouco mais velho do que eu e me apresentou:
“Esse é o ex-dono do teu R/T 72 verde igarapé ...”
O nome dele era Reinaldo Arias e ficou com o meu R/T de 1978 a 1994, ou seja, por 16 anos !!! Naquele momento eu me dei conta que ele não havia sido um dono do meu R/T, mas era eu que estava com o R/T dele !!!!
Bati um grande papo com o Reinaldo que se emocionou bastante em falar do carro. E me disse que conhecia os dois donos do carro posteriores a ele. E me prometeu reunir material e depoimentos dos donos do carro de 1978 a 1999.
Se passaram 2-3 semanas e eis que nesta segunda-feira chega po sedex um envelope pardo ... Ao abrir encontrei 3 saquinhos plásticos, devidamente etiquetados: Reinaldo, Ademir e Nika. Em cada envelope documentos e fotos do R/T 72, testemunhas do que o carro representou para cada um deles.
Meu objetivo é utilizar este material numa futura reedição ampliada do meu livro, mas faço absoluta questão de antecipar as principais partes desta história !
1) REINALDO
O Reinaldo preparou um longo manuscrito com muitas histórias, uma delícia de ler ...
A primeira curiosidade é que o Reinaldo, que passou 16 anos com o carro, morou este tempo todo na Rua Oswaldo Cruz, em São Caetano do Sul ... Durante 6 destes 16 anos, eu morei numa travessa desta mesma rua !!! Ou seja, eu estava há algumas quadras do R/T que viria a ser meu 30 anos depois !!! Eu andava muito a pé, o dia todo ... Subia muito a rua Oswaldo Cruz ... Com absoluta certeza eu cruzei com este carro quando era criança ....
O Reinaldo viu o carro com o irmão de uma colega de escola, em 1977 ... No ano seguinte o carro aparece a venda numa loja na Visconde de Inhauma chamada Didige Automóveis ... Curiosamente esta loja ainda existe, hoje em dia na Rua Amazonas ... O Reinaldo foi com o pai até a loja e compraram o carro.
Desde 1977 o carro já estava bem descaracterizado, pintado de prata, com vinil prata, rodas palito, frente de Gran Sedan, traseira de 75 e faixas de R/T 74 ... Uma salada ! Bonito, mas uma salada:
Em 1982 o Reinaldo instalou um teto solar Panther e um volante esportivo Panther ... Na foto de baixo, de 1982, o R/T 72 já com o teto solar :
Só como aperitivo, um pedacinho do manuscrito do Reinaldo !!!! Boa é a passagem do pau que ele deu num Maverick GT ... :)
O engraçado é que a Panther ainda existe, e fica no mesmo endereço ... http://www.pantherevolution.com.br/
Em 1994 o Reinaldo vende o R/T, após 16 anos com o carro, para um amigo, o Ademir.
2) ADEMIR
O Ademir ficou apenas 2 anos com o carro. Pintou o teto de vinil de preto e gostava mesmo era de dar pau no carro .... Veja as fotos...
3) NIKA
O Nika, Nilton Dias, comprou o carro do Ademir e investiu nele. Fez uma pintura nova, azul ... Não sei se foi ele que pintou a bandeira americana no paralama esquerdo.
Abaixo uma foto do carro recém pintado de azul:
Em 1999 o Nika vende o carro para o Luiz Chagas ...
Em Janeiro de 2006 eu vi um anúncio de um Dodge esquisito ... Azul Los Angeles, com a bandeira americana no paralama e anunciado como Charger R/T 1972 ... Fui ver o carro ... E mais uma coincidência ... O carro era do Luiz Chagas. A mãe dele trabalha com o meu tio há mais de 30 anos e me conhece desde criança ...
O estado do carro era meio desanimador, mas a plaqueta confirmava: era um Charger R/T 1972 verde igarapé ...
O Capitão América, no dia que chegou em casa
O carro foi totalmente desmontado, muita funilaria feita, pintado, montado ... A história completa esta no meu livro "Dodge - História de uma Coleção" ...
Aplicando as faixas...
Pronto e lindo !!
De volta ao seu estado original, no qual ele ficou tão pouco tempo ...
Quando comprei este carro, ele corria um risco enorme de ser desmanchado: assoalho ruim, lataria judiada, mas motor forte, câmbio 4 marchas, diferencial bom ... Poderia ter sido desmanchado, como foram 98% dos Chargers R/T 72 ... Mas ele sobreviveu !
Sobreviveu e hoje é um dos Dodges mais famosos do Brasil, já que foi capa do meu livro com 7.500 exemplares vendidos ... Sem contar os materiais de divulgação, etc .... Sua imagem se espalhou por todo o Brasil, de Norte a Sul ... Um exemplar do livro está na biblioteca do Walter P. Chrysler Museum, nos EUA ...
Resumindo o histórico de proprietários do carro:
Até 1977 – Manuel Alvarez Robles – Vila Oratório – São Paulo – SP
1977 – Antonio Mauro Marques – São Caetano do Sul – SP
1978 – Didige Automóveis - Loja – São Caetano do Sul
1978 a 1994 – Alonso Arias Marin – pai do Reinaldo – São Caetano do Sul – SP
1994 a 1996 – Ademir Aparecido Marques – São Caetano do Sul – SP
1996 a 1999 – Nilton Dias – Nika – São Caetano do Sul – SP
1999 a 2006 – Luiz Chagas – São Caetano do Sul – SP
2006 - 2011 – Alexandre Badolato – São Paulo - SP
Perguntas sem respostas:
1) Quem comprou este carro 0km ?
2) Quem pintou ele de prata ?
3) Em qual concessionária ele foi tirado 0km ? Nas fotos dele prata há um emblema da Janda, mas é o emblema moderno ... Em 1972 ele deveria ter o emblema antigo, com uma canoa ... O moderno deve ter sido colocado depois ...
4) Quem é (ou era) Manuel Alvarez Robles ?
O próximo passo desta saga é juntar os 5 últimos proprietários do carro para uma foto em volta dele !!!!
Qualquer informação sobre este carro, principalmente antes de 1977 é extremamente bem vinda !!!
Abraços,
Badolato
Estou na mesma procura da historia do meu triple black que foi usado em dois assaltos a banco em Sao Bernardo. Fiquei horas na biblioteca lendo jornais da epoca, mas ainda nada.
ResponderExcluirBadola que história sensacional!!! Voltei na minha infância e as caminhadas com minha madrinha na Visconde, ela morava na Vila Gerty. Cara eu conheço um cara com sobrenome Robles!!! Vou tentar descobrir se o Robles que você procura não é algum familiar!! Vou verificar isso e te falo!!!
ResponderExcluirAbraço
Coxinha
Badola,
ResponderExcluirEu não só tenho orgulho de ter um belo Dodge na garagem, com uma história delciosa, mas também de ser amigo de um cara excepcional e tão entusiasta como você !!!!
Que coisa mais sensacional !!!!
E as histórias dessas nossas verdadeiras paixões não precisam ser procuradas, elas é que nos procuram, meu caro !!!
Se eu puder lhe ajudar em alguma coisa, qualquer informação relevante, pode apostar que o farei com a maior felicidade !!
Só lembrando que a tua coleção tem vários carros oriundos da região que resido atualmente, e se tem algo que eu ADORO fazer é correr atrás desses fatos...
Forte abraço e por favor continue a nos brindar com esses deliciosos causos que só você sabe como contar...
Escort Dourado,
ResponderExcluirEu conheço um dos donos do teu R/T 75 triple black, ele comprou o carro do segundo proprietário, se vc. quiser posso te passar o contato dele, ok ??
Boa sorte na procura !!!
Coxinha,
ResponderExcluirRobles não deve ser um sobrenome muito comum ... Checa lá, por favor !!!
Buzian,
Quer começar por qual ?????
Tem o LS 73 turquesa de Carazinho - RS que eu não sei nada a respeito !!
O R/T 80 prata eu levantei quase a história toda, mas não organizei !!
Abração,
Badolato
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirAlexandre, que legal! Você já havia falado que chega uma fase que os carros encontram seu dono. Agora a história do mais famoso te encontrou. Que legal!
ResponderExcluirE o melhor de tudo é ver a história preservada. O carro no Museu, maravilhoso, isso não tem preço. E agora com prefácio.
Muito bom mesmo!
Vital
Pode deixar cara amanhã se eu ver ele online no msn já peço pra ele vasculhar todos na família atrás do verdadeiro Robles!!
ResponderExcluirMuito legal Badolato.
ResponderExcluirAcredito que todos nós entusiastas de automóveis antigos gostaríamos de fazer o mesmo levantamento.
Boa sorte na empreitada.
Abraço.
Reinaldo
https://reiv8.blogspot.com
Badolato
ResponderExcluirNa minha próxima postagem , vou narrar a história de um charger 72 que tive. Quando eu conheci o carro, lá por 82/83, ele já tinha a frente do 75, as lanternas traseiras e o interior idem!
No ano de 89, eu reformei o carro todo , mas no ano de 92 foi desmanchado
Abraço
Cuti
Badola,
ResponderExcluirMe manda por e-mail o que vc. tiver de informação dos teus Dodges originários daqui do Sul que nós vamos atrás de novidades, ok ?
Sempre um prazer dar uma de "Indiana Jones" e descobrir arqueologias antigomobilísticas, meu velho !!!
Abraço chuvoso direto da fronteira !!
Que história mais incrível e pitoresca!!
ResponderExcluirAté hoje eu não me conformo como muitos donos de carros,sejam Dodges ou qualquer outra marca,que modificam e alteram as características originais do mesmo,denotando total falta de cultura automobilística!!!Como pode alguém que tenha o mínimo dos mínimos de bom senso,pegar um carro estonteantemente lindo e maravilhoso como o R/T 72 verde igarapé e modificá-lo para uma coisa pavorosa e de um tremendo mau gosto?????????
O nosso amigo Lincoln também passou pelo mesmo problema,embora em menores proporções,com um R/T 72 idêntico que voltou à sua total plenitude e esplendor!!!Parabéns a vocês que amam e preservam a originalidade assim como eu,e que carros assim continuem caindo em mãos de pessoas cultas e que saibam que automóveis só podem ter um único estado:A TOTAL ORIGINALIDADE!!!!!!!!
As histórias de alguns carros os tornam ainda mais valiosos.
ResponderExcluirBadola, o Murilo me contou que pularam carnaval no seu SE 74 que estamos Restaurando, e veja só, parece até mentira mas tenho fotos que comprovam, RsRsRs,
Ao passar um jato de ar nos furos da caixa de ventilação, saiu um punhado de confeti e alguns pedaços de serpentina.
Confirma ou não a história?
E essa deve ser só uma de varias desse carro,
KKKKKKKKK
Abraços.
http://orlandinigarage.blogspot.com
Orlandini.
Só aproveitando o quesito história, para contar uma: Comprei um R/T 75 sem documentos de Piracicaba, bem vendi ao amigo Alex e este conversando com o Adhemar OVELHA aqui de Jundiaí, comentou do carro. O Ovelha falou, me passa alguma coisa do carro que faço uma pesquisa. Bem o Alex passou o Chassi e dias depois o Ovelha liga passando os dados do último proprietário. O Alex ligou e o carro de documento foi único dono. Este único dono vendeu o carro com sem recibo a um desmanche. O desmanche não fez o que devia e o carro rodou imagino até que foi necessário acertar a documentação da placa amarela para cinza. Interessante é que o Ovelha conseguiu algo da época da placa amarela. BADOLATO se vc tiver amizade com o Ovelha, comenta isto com ele e quem sabe ele ajuda.
ResponderExcluirAbraços
tenho a nitida impressão que em 1977 vi este carro tirando racha com outro dodge na av. d. pedro em Sto. André.O curioso é que eu me lembro bem sómente do prata.
ResponderExcluirO nome Robles não é de uma malharia? Boa sorte adorei a história.