Imagine por um momento que um ser pensante pudesse estar a cargo das políticas relacionadas à regularização de carros antigos, regras comerciais para importação e exportação de automóveis e peças, e quisesse fomentar esse mercado.
Em primeiro lugar o ser pensante avaliaria o tamanho da oportunidade de geração de trabalho que isso traria. Estamos falando de:
• Funileiros
• Pintores
• Ajudantes de oficina
• Formuladores e comerciantes de tintas
• Tapeceiro
• Vidraceiro
• Mecânicos (geral e especialistas)
• Auto eletricistas
• Despachantes
• Guincheiros
• Etc, etc, etc ...
O primeiro passo seria facilitar a regularização dos carros. Colecionador de carro antigo não é bandido, apesar de muitas vezes ser tratado como se fosse. A transferência de propriedade deveria ser facilitada. Vistoria apenas de numeração de chassis, para checar a origem lícita do carro. Nada mais. Carros desmontados, carros incompletos, até sem mecânica podem ser transferidos para que o investimento na restauração deles seja seguro. Mas não podem rodar ... Ninguém aqui quer carros velhos e estragados circulando. Para ter direito a circulação, aí sim, uma vistoria como a que se exige hoje, injustamente, para transferência de propriedade. Aprovado nessa vistoria o carro rodaria normalmente.
Ainda no que tange a regularização, o segundo passo é parar de ocupar as varas Brasil afora com processos de usucapião de bens móveis para carros onde a transferência de propriedade não pode ser feita pelas vias normais: recibo perdido, óbito, dono desconhecido (sem queixa de roubo, obviamente), placas amarelas e carros sem registro na BIN. Esses processos são lentos, caros e ocupam nosso juízes com coisa pequena, contribuindo para a letargia do judiciário. Ao invés disso, o interessado em ter a propriedade do carro iria a um cartório e assumiria toda a responsabilidade pela origem do carro, sob penas da lei, de forma análoga às declarações de motor que já fazemos hoje. Oras, se tal instrumento serve para motores, porque não para carros, que frequentemente valem menos do que alguns motores ?
Facilitado o registro dos carros, o terceiro passo é abrir as portas do mundo: facilitar (e baratear) os processos de importação e exportação de veículos. Da forma que é hoje, além de caríssimo, o processo é feito para você desistir ! No momento que escrevo essas linhas aguardo autorização do Ibama (!!!!) para embarcar um carro na Alemanha. Um carro que vai requer muitos serviços aqui no Brasil, gerando trabalho e renda, além de enriquecer o acervo cultural-automotivo do país. E não vai atropelar nenhum mico-leão dourado no caminho ... Algumas coisas chegam a ser bizarras.
Importações e exportações temporárias tinham que ser simplificadas. Quero mandar um Dodge nacional brilhar no Mopar Nationals em Columbus, OH, meca do amantes dos produtos Chrysler. Imagina o transtorno. Quem acompanha o caso do TK – Thiago Kfouri, do canal Macchina no Youtube, há 2 anos tentar regularizar um VW Gol que passou uma temporada nos Estados Unidos, sabe do que eu estou falando. O fusca da minha falecida tia Vilma, foi levado para os EUA pelo atual proprietário, em definitivo. Está há 2 anos sem poder ser regularizado por algum erro na burocracia de embarque aqui no Brasil.
Esse vai e vem de carros deveria ser uma constante. Carros de fora vindo ser restaurados aqui, com mão de obra qualificada e mais barata do que Europa e EUA. Carros daqui deveria circular e serem comercializados mais facilmente no exterior. E carros-projeto, que inexoravelmente irão requer restauração gerando trabalho e renda, deveriam ter sua importação incentivada, facilitada.
Bom, mas daí faltaria mão de obra qualificada. Bons funileiros estão em extinção. Será porisso a necessidade de aprovação do Ibama ?? O quarto passo seria investir na qualificação de profissionais. Escolas técnicas com cursos de funilaria e pintura pelo Brasil, programa de menor aprendiz facilitado e direcionado para restauração de automóveis.
Com tudo isso nosso mercado se fortaleceria e se desenvolveria. Muitas pessoas se animariam a montar coleções, ou a ter um segundo ou terceiro carro na garagem. Com maior volume de restaurações o mercado de peças para restauração também iria crescer. Muitos projetos poderiam se viabilizar, como produção de peças de latarias para carros nacionais, reprodução de tecidos, fabricação de pneus nas medidas clássicas, laboratórios de impressão de peças 3D por todo o lado.
Mas a realidade hoje é bem diferente disso. Essa semana, após 5 idas a centro de vistoria automotiva e 3 laudos realizados, consegui transferir um Citroen Xsara VTS que com muita teimosia e cabeçadurisse insisto em tentar salvar. Aguardo o Ibama liberar o meu carro alemão. Cobro pela milésima vez o advogado por qualquer notícia nos nossos processos de usucapião ... É um 7 x 1 atrás do outro, mas nesse caso perdemos de nós mesmos ...