quinta-feira, 27 de abril de 2023

Brasil, celeiro mundial de restauração de automóveis ... #sqn


        Imagine por um momento que um ser pensante pudesse estar a cargo das políticas relacionadas à regularização de carros antigos, regras comerciais para importação e exportação de automóveis e peças, e quisesse fomentar esse mercado. 

Em primeiro lugar o ser pensante avaliaria o tamanho da oportunidade de geração de trabalho que isso traria. Estamos falando de:

Funileiros

Pintores

Ajudantes de oficina

Formuladores e comerciantes de tintas

Tapeceiro

Vidraceiro

Mecânicos (geral e especialistas)

Auto eletricistas

Despachantes

Guincheiros

Etc, etc, etc ...

    O primeiro passo seria facilitar a regularização dos carros. Colecionador de carro antigo não é bandido, apesar de muitas vezes ser tratado como se fosse. A transferência de propriedade deveria ser facilitada. Vistoria apenas de numeração de chassis, para checar a origem lícita do carro. Nada mais. Carros desmontados, carros incompletos, até sem mecânica podem ser transferidos para que o investimento na restauração deles seja seguro. Mas não podem rodar ... Ninguém aqui quer carros velhos e estragados circulando. Para ter direito a circulação, aí sim, uma vistoria como a que se exige hoje, injustamente, para transferência de propriedade. Aprovado nessa vistoria o carro rodaria normalmente.

    Ainda no que tange a regularização, o segundo passo é parar de ocupar as varas Brasil afora com processos de usucapião de bens móveis para carros onde a transferência de propriedade não pode ser feita pelas vias normais: recibo perdido, óbito, dono desconhecido (sem queixa de roubo, obviamente), placas amarelas e carros sem registro na BIN. Esses processos são lentos, caros e ocupam nosso juízes com coisa pequena, contribuindo para a letargia do judiciário. Ao invés disso, o interessado em ter a propriedade do carro iria a um cartório e assumiria toda a responsabilidade pela origem do carro, sob penas da lei, de forma análoga às declarações de motor que já fazemos hoje. Oras, se tal instrumento serve para motores, porque não para carros, que frequentemente valem menos do que alguns motores ?

    Facilitado o registro dos carros, o terceiro passo é abrir as portas do mundo: facilitar (e baratear) os processos de importação e exportação de veículos. Da forma que é hoje, além de caríssimo, o processo é feito para você desistir ! No momento que escrevo essas linhas aguardo autorização do Ibama (!!!!) para embarcar um carro na Alemanha. Um carro que vai requer muitos serviços aqui no Brasil, gerando trabalho e renda, além de enriquecer o acervo cultural-automotivo do país. E não vai atropelar nenhum mico-leão dourado no caminho ... Algumas coisas chegam a ser bizarras. 

    Importações e exportações temporárias tinham que ser simplificadas. Quero mandar um Dodge nacional brilhar no Mopar Nationals em Columbus, OH, meca do amantes dos produtos Chrysler. Imagina o transtorno. Quem acompanha o caso do TK – Thiago Kfouri, do canal Macchina no Youtube, há 2 anos tentar regularizar um VW Gol que passou uma temporada nos Estados Unidos, sabe do que eu estou falando. O fusca da minha falecida tia Vilma, foi levado para os EUA pelo atual proprietário, em definitivo. Está há 2 anos sem poder ser regularizado por algum erro na burocracia de embarque aqui no Brasil.


    Esse vai e vem de carros deveria ser uma constante. Carros de fora vindo ser restaurados aqui, com mão de obra qualificada e mais barata do que Europa e EUA. Carros daqui deveria circular e serem comercializados mais facilmente no exterior. E carros-projeto, que inexoravelmente irão requer restauração gerando trabalho e renda, deveriam ter sua importação incentivada, facilitada.


    Bom, mas daí faltaria mão de obra qualificada. Bons funileiros estão em extinção. Será porisso a necessidade de aprovação do Ibama ?? O quarto passo seria investir na qualificação de profissionais. Escolas técnicas com cursos de funilaria e pintura pelo Brasil, programa de menor aprendiz facilitado e direcionado para restauração de automóveis.


    Com tudo isso nosso mercado se fortaleceria e se desenvolveria. Muitas pessoas se animariam a montar coleções, ou a ter um segundo ou terceiro carro na garagem. Com maior volume de restaurações o mercado de peças para restauração também iria crescer. Muitos projetos poderiam se viabilizar, como produção de peças de latarias para carros nacionais, reprodução de tecidos, fabricação de pneus nas medidas clássicas, laboratórios de impressão de peças 3D por todo o lado.


    Mas a realidade hoje é bem diferente disso. Essa semana, após 5 idas a centro de vistoria automotiva e 3 laudos realizados, consegui transferir um Citroen Xsara VTS que com muita teimosia e cabeçadurisse insisto em tentar salvar. Aguardo o Ibama liberar o meu carro alemão. Cobro pela milésima vez o advogado por qualquer notícia nos nossos processos de usucapião ... É um 7 x 1 atrás do outro, mas nesse caso perdemos de nós mesmos ...




12 comentários:

  1. Sábias palavras, Badola. Sabe explicar como um professor que vivenciou tudo isso várias vezes. Eu sinceramente espero que alcance todos os seus objetivos. Você merece.
    Abraços.

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  2. Acredito, que seria muito importante ter medidas legais e isenção de taxas e tributos, para microempresas que aturem nessas atividade geraria um mercado de trabalho e, fomentaria o mercado de peças autopeças de carros antigos.

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  3. Esse governo que tá no poder hj, não podemos esperar nada além de aumento de impostos e aparelhamento da máquina pública em benefícios deles mesmo mesmos, pensar em colecionadores como nós, ou políticas de facilitar a vida do povo, esquece..

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    1. Do jeito que a coisa está posta, penso que não podemos esperar nada além de aumento de impostos e aparelhamento da máquina pública deste nem de qualquer outro governo vindouro. Eles nunca ouviram falar na cultura do antigomobilismo. Nunca foram (como eu também nunca fui) a um encontro de Águas de Lindóia, por exemplo.

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    2. O que o anterior fez nesse sentido, Sr. Adelmo? Se puder me listar as enormes contribuições em ordem alfabética, eu agradeceria bastante.

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    3. Esse que é o problema. Ninguém nunca fez nada a respeito. E se ninguém encher a caixa de e-mail de um deputado ou senador qualquer, pelo menos na intensão de levantar a bola e algum digníssimo parlamentar resolver chutar pro gol, ninguém jamais fará alguma coisa que facilite não só a vida dos colecionadores, mas a preservação da história automotiva desse país. É hora de nós que gostamos de carro, comprarmos essa briga.

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  4. Isso é uma coisa que deveria mudar, existir transferência de propriedade e permissão para rodar!

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  5. Badola! Ótima visão sobre o assunto. Deveriam deixar fluir a vida, dando responsabilidade ao cidadão sob as penas das leis existentes e q não são poucas. O Estado quer a qualquer custo tutelar o cidadão. Esse grupo q se instalou no poder não está aí à toa. Em tese foi a vontade da maioria, metade mais um. Como costumo dizer, são escolhas, erradas, mas escolhas. Vamos aguardar uma outra oportunidade para evoluirmos, porque na última, o povo deu um tiro no pé.

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  6. Badolato, eu mandei um e-mail com o link deste post para a Deputada Tabata Amaral, aí da cidade de São Paulo. Torço pra que ela se digne a dar uma resposta e que meu e-mail a sensibilize para, ao menos, citar o seu caso no circo, digo, plenário da Câmara dos Deputados.

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  7. Parabéns. Sempre acompanho você anonimamente, mas desejo que tudo dê certo. Fiquei muito feliz de ver os vts sendo salvos. Continue batalhando, se esforçando, a comunidade toda vai sempre ajudar no que puder. Torcendo por melhorias nas leis e processos deste país. Mas ainda bem que temos pessoas persistentes como você.

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  8. De boa intenção, ta cheio por aí. Alguém precisa capitanear um processo de lobby em Brasília e nas redes sociais pra iniciar o movimento que faça isso acontecer. Penso ser o mais lógico que a comunidade de produtores de conteúdo automotivo tome essa iniciativa e faça andar para que o sonho se torne em objetivo e então em realidade.

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    1. Quem melhor do que alguém que está lá no Congresso pra capitanear isso? "Fazer barulho" aqui fora eu entendo que é menos produtivo (ou seja, o efeito do barulho é menor) do que explicando as dificuldades do segmento de carros antigos pra alguém que está lá dentro. O barulho tem que ser feito lá dentro. A minha intensão quando eu enviei o e-mail com o link deste post pra Tábata Amaral foi tentar fazer alguém levantar a bola. Eu não vejo ninguém mais indicada do que ela, que é tão ligada em educação e cultura pra fazer isso. Os 513 que estão lá sequer sabem que existem colecionadores de carros antigos, muito menos que o setor enfrenta dificuldades principalmente de ordem burocráticas. Fazer manifestações como as de 2013 é improdutivo. Nós temos que fazer os caras que estão lá verem que o problema existe. Se vão dar alguma solução, são outros 500. Uma vez que os caras sabem do problema, buscar soluções é o passo seguinte.

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